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segunda-feira, janeiro 31, 2011

Contemplação

Há um momento que sentimos que tudo foge ao nosso controle, saimos do estado comum e normal de alerta e permitimos deixar livres os pensamentos e sentimentos mais inocentes (e até mesmo perturbadores).
Nesse momento não somos mais o que somos, nos permitimos ser um fragmento inconsciente de existência, qual fossemos uma coisa programada a não se assustar com emoções... elas transcendem os conceitos de lógica, tempo e intuição.
É ai que a grandiosidade das energias tenta agir como força atrativa derradeira... e não nos enxergamos mais seres humanos, mas seres egoístas para realizar a vontade que nem sentimos como vontade, mas como inclinação natural.
Vontade de abraçar, de se jogar em um carinho tão profundo capaz até, se fosse transformado em luz, de iluminar uma cidade grande ... e beijar, nem tem sentido ou significado, quando o desejo real é se misturar, se confundir com aquilo (aquele) que reflete em nosso interior a imagem de nós mesmos... assim a vontade de amar a semelhança que nos agrada, e tornar mais nosso o que contemplamos no outro: a capacidade de nos sentir e nos enxergar, de fornecer o carinho que inocentemente queremos receber.
racionalizem todas as teorias cientificas sobre o amor, paixão, desejo... nada será mais aplicável e considerável do que o conceito de contemplação que experimentam vez ou outra os seres humanos.
De repente mergulhamos numa contemplação tão profunda... que compreende-la é dar permissão para aceitar que somos criaturas contra-lei... contra os códigos que inventamos, contra a moral que sustentamos, e a favor do que reprovamos nos outros, quando se trata de nós mesmos... Nós punimos quem age contra o que nem nós mesmos conseguimos seguir... e somos tão cruéis... que somos capazes de punir a nós mesmos pela atitude que somos capazes de perdoar nos outros... Somos traidores em todos os contextos, tal traimos as expectavivas dos outros quando agimos vislumbrando nossa satisfação... traimos a nós mesmos matando nossas verdades, para sustentar verdadeiras as imposições e realidades criadas pelos outros.
Nessa contemplação, que ora supre o traidor que existe em nós e ora atende o mundo traidor, a vida é uma loteria... nuns momentos uns vencem e experimentam a verdade absoluta entre ato e intenção, noutros vive-se a angustia de agir contra-pensamento ou pensar contra-ato... E desta forma Sheakespeare foi imortalizado traduzindo a eterna questão da alma humana "Ser ou não ser?... eis a questão!"
e disso tudo o mais paralisador é este ato inerte de contemplação.

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